Casa de Hades – Capítulo XV – Hazel

Quando Morgan avisou sobre os pássaros da Estinfália se aproximando, todos no convés tomaram seus postos de combate. Hazel ficou entre Nico e Frank, tentando parecer confiante diante daquela nuvem negra de pássaros que agora ocupava quase metade do horizonte. Eram monstros que eles já tinham enfrentado antes, afinal de contas. Enfrentado e – muito importante – derrotado. Não eram criaturas particularmente fortes, embora estivessem impressionando bastante pela quantidade.

A filha de plutão suspirou, segurando mais forte sua espada na mão. Quando Jason derrubou as primeiras aves ainda no ar, longe do Argus II, o enxame tomou uma postura agressiva. Era hora de lutar. Sem demonstrar, Hazel esfregou o rosto, cansada. Se as coisas continuassem daquela forma ela poderia dizer que ir contra Gaia com seus amigos tinha sido mais extenuante do que quando estivera no Alasca, com sua mãe sob o controle da deusa da Terra, tentando impedir a ressurreição de um gigante (embora ainda achasse que morrer fosse extenuante o bastante, por assim dizer). Já estavam tão familiarizados com os ataques daquelas aves-monstro que era fácil evitar seus golpes e contra-atacar, uma vez que sabiam exatamente como eles agiriam. Naquele cenário, mesmo a incrível quantidade de aves não parecia o suficiente para fazer qualquer diferença.

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Casa de Hades – Capítulo XIV – Leo

A manhã estava nascendo quando Leo iniciou a instalação da Esfera de Arquimedes. Tinha sido muito difícil trabalhar com todos aqueles ataques e confusões, mas no geral ele tinha sido deixado de lado para cuidar só do aprimoramento do Argus II. O menino estava cansado e frustrado com a própria demora no trabalho. Pensava o tempo que teriam quer fazer o possível e o impossível algumas vezes para chegar à tempo no Monte Pindo, sendo que nem faziam ideia do tipo de adversidade que encontrariam pelo caminho. As coisas não estavam boas, nem um pouco boas.

Frank ainda estava de vigia no convés, mas todos os outros semideuses dormiam. Tinham conseguido, depois de horas de trabalho, consertar o convés quebrado e limpar grande parte do andar debaixo, que ainda tinha resíduos de pedras, poeira, madeira lascada, reboco e água. Leo queria ter tudo pronto para quando despertassem. O mecanismo da esfera era relativamente simples para a quantidade de tarefas complicadas que ele vira aquilo ser capaz de desempenhar e por isso mesmo ele queria entender mais sobre o funcionamento para então instalar no painel de controle do navio. Não seria agradável se o navio fosse pelos ares, ou ejetasse os semideuses, ou ainda se transformasse num robô gigante (muito embora o conceito de “robô gigante” agradasse muito o filho de Hefesto, em essência). Quando finalmente deu seu trabalho de pesquisa por completo, começou a instalação da peça. Fio por fio, fez todas as ligações necessárias. Observou as costas de Frank por um momento, pensando se devia avisar alguém que estava para ligar a esfera ao sistema do navio. Por outro lado, estavam todos tão cansados que seria maldade acordá-los por tão pouco, especialmente se tudo desse certo. Além do mais, se não desse certo, talvez nem precisasse acordar ninguém. Respirou fundo e ligou a chave da Esfera de Arquimedes, segurando a respiração. Com um crescendo, uma série de estalos e cliques espalharam-se por todo o Argus II e Leo podia ouvir os geradores de energia do navio a toda força. Festus disse algo com seus estalos e rangidos que o filho de Hefesto só pode supor ser um mas o que diabos está acontecendo aqui?
Frank voltou-se para Leo com uma expressão tal qual os estalos de Festus. Quando os barulhos finalmente cessaram, os controles de Wii que Leo usava agora dividiam espaço com botões, alavancas e chaves saídas da Esfera.

– O que foi isso?
– A Esfera de Arquimedes está no lugar, finalmente!
– Está?! – o rapaz estava surpreso – Isso é demais! E… o que ela vai fazer agora?

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Casa de Hades – Capítulo XIII – Nico

Aquele dia tinha sido um dia bem cheio para Nico. Ele sentia a cabeça lotada de pensamentos e acontecimentos no momento em que voltou ao Argus II com Morgan, quando finalmente foi capaz de se sentar e descansar. Enquanto comia, lembrava-se das palavras que a filha de Hecate tinha dito ainda há pouco sobre ter ficado preocupada. Quando Nico a conhecera na estação de trens Albany, em Nova York, ele tinha visto uma jovem talentosa e desajeitada, mas aquilo lhe caía incrivelmente bem. Ainda na mesma ocasião, teve a oportunidade de vê-la em combate, no momento em que tiveram que se aliar, mas mesmo aquela luta tinha sido muito diferente do momento em que ela enfrentou Jason. Ele se arrepiou, pensando que até agora, de fato, Morgan só lutara de seu próprio lado. Embora, enquanto Nico podia vê-la dormir sentada no convés, ela era exatamente a mesma menina de antes, da estação, aparentemente fora de todo aquele mundo de semideuses e lutas infindáveis por suas vidas e pelo destino do mundo (claro, se você não levasse em conta as roupas sujas, os arranhões e hematomas pelas pernas e braços).
A última coisa que ele realmente não tinha esperado, naquele dia tão caótico e turbulento, tinha sido aquele abraço. Ele não pensara muito a respeito quando decidira deixar Morgan onde estava, em sua corda no penhasco, enquanto ele enfrentava a dupla de quimeras. Com Tanatos livre novamente era possível matar aquele tipo de monstro mais fraco e livrar-se dele por um bom tempo, sem preocupações. Jamais lhe passara pela cabeça a reação que aquela escolha causaria.

A luta não tinha sido uma luta simples. Nico havia passado uma semana aprisionado dentro de uma ânfora, alimentando-se apenas com sementes de Romã para preservar suas energias e isso depois de uma viagem agradável pelo Tártaro onde ele achou que enlouqueceria em diversos momentos. Desde que começara a se recuperar, sentia-se sempre mais cansado do que o normal depois das atividades mais banais, além dos diversos momentos em que pensou não ser capaz de suportar o próprio peso em pé por muito mais tempo. A luta não tinha sido simples, especialmente por ser muito mais extenuante do que seria em qualquer outro momento. Sem a ajuda dos esqueletos, pensava, teria sido impossível sair de lá inteiro.

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Casa de Hades – Capítulo XII – Morgan

A filha de Hecate só entendeu o real significado das palavras de Nico quando ouviu um rugido estranhamente familiar: Quimeras. Não ventava, mas ela sentiu um arrepio na espinha quando pensou que o filho de Hades teria que lutar sozinho da maneira como estava. Mais do que isso, quando pensava que ele havia escolhido lutar sozinho. Terminando de desenhar o círculo na rocha com pressa ela procurava equilibrar o frasco com terra e o frasco com água em rachaduras no paredão de pedra, ficando aflita com os sons do combate. Repetia mentalmente para si mesma que se concentrasse, mas era difícil.

Quando finalmente terminou, no que parecia ter sido um processo infinitamente mais longo do que todas as outras marcações que tinha feito antes, gritou a plenos pulmões, pedindo para ser içada de volta, mesmo sabendo que provavelmente não seria atendida. Pela primeira vez em muito tempo, ela não sabia o que fazer. Tentou escalar o paredão rochoso aproveitando a corda que tinha na cintura, mas o esforço fez com que sua perna latejasse de dor… descer havia sido infinitamente mais simples. Respirando fundo e decidindo tentar ignorar a dor ela conseguiu dar dois passos para cima antes de se assustar e cair de volta para onde estivera até então: Nico tinha acabado no chão lá em cima, a cabeça para fora do penhasco enquanto mantinha as presas da Quimera longe de seu pescoço com sua espada de Ferro Negro.

– Hmm… e aí…? – a voz do rapaz falhava e um filete de suor escorria pela têmpora dele
– Tendo um dia difícil? – ela cruzou os braços em frente ao peito, erguendo uma sobrancelha
– Pode-se dizer que sim… – ele lutava para manter a Quimera quieta
– Se quiser ajuda, é só pedir.
– Obrigado pela consideração.

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Casa de Hades – Capitulo XI – Reyna

– Reyna! Octavian chegou!!

Ela despertou subitamente com o aviso de Dakota. Quando ela sentou na cama de armar e olhou para a entrada da tenda a silhueta do filho de Baco já tinha sumido. Ela se vestiu rapidamente, terminando de fechar as fivelas do peitoral de sua armadura romana enquanto dirigia-se para a tenda do conselho de guerra, Aurum e Argentum em seus calcanhares. Ela tinha passado quase a noite toda em claro pensando no que Sam tinha dito. Ela entendia perfeitamente o sentimento da filha de Trivia em proteger seus irmãos, ela faria exatamente o mesmo por Hylla (assim como tinha certeza de que Hylla faria o mesmo por ela), mas ela estava numa posição delicada com Octavian tentando se sobressair de qualquer maneira como o grande salvador da pátria à custa do sangue e suor dos soldados romanos. Ela segurou forte o mapa que Sam tinha lhe dado na noite anterior, o selo de cera rompido, pensando se o levaria ao conselho de guerra ou não. Respirou fundo e mandou seus cães para longe… eles odiavam mentiras afinal de contas.

Octavian estava sentado na cabeceira da mesa, sendo interado dos assuntos por Dakota. Ele parecia indicar quais locais no mapa já haviam sido vasculhados pelos batedores e de quais locais eles ainda não haviam obtido nenhum resultado. Quando Reyna cruzou a entrada da tenda ele se calou, fazendo com que Octaviam levantasse o olhar do mapa para a Pretora.

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